segunda-feira, 2 de maio de 2016

Sofrimento



Semana passada, tratava no consultório a questão da dor. Falava sobre o fato dela estar ligada a um objeto, enquanto que o sofrimento (na ocasião, usamos a expressão angústia) compreende um vazio intenso, como uma desintegração psíquica.


E hoje, ao ler o texto Bioética, dor e sofrimento, de José Paulo Drummond*, deparo-me com esta ideia tão eloquente:


“A dor exige compreensão racional e o sofrimento pede entendimento afetivo.


Podemos traçar o seguinte paralelismo entre dor e sofrimento: a dor grita, o sofrimento lamentase; a dor transita, o sofrimento esmaga; a dor mutila, o sofrimento desintegra; a dor é percepção presente, um “agora” sensível, o sofrimento é passado, memória, um “sempre” subjacente; a dor é matéria que se faz cognição, o sofrimento é (re) sentimento que se faz matéria (lesões psicossomáticas); a dor aponta para um local, o sofrimento é um todo difuso; a dor necessita falar, se manifesta por interrogações e interjeições, o sofrimento tende ao silêncio, a se exprimir por lágrimas, na expressão de santo Agostinho, este “colírio da alma”, o coração liquefeito a dissolver os nós.”


Espero sempre poder compreender racionalmente a dor de quem me procura como Psicóloga, mas, principalmente, quero ter o entendimento afetivo necessário para acolher e cuidar do sofrimento que atormenta este, que me elege como alguém que pode trilhar com ele o caminho da sua existência...


Por Mariangela Venas




* José Paulo Drummond é livredocente e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).