Semana passada, tratava no
consultório a questão da dor. Falava sobre o fato dela estar ligada a um objeto,
enquanto que o sofrimento (na ocasião, usamos a expressão angústia) compreende um
vazio intenso, como uma desintegração psíquica.
E hoje, ao ler o texto Bioética,
dor e sofrimento, de José Paulo Drummond*, deparo-me com esta ideia tão eloquente:
“A dor exige compreensão
racional e o sofrimento pede entendimento afetivo.
Podemos traçar o seguinte
paralelismo entre dor e sofrimento: a dor grita, o sofrimento lamenta‑se; a dor transita, o
sofrimento esmaga; a dor mutila, o sofrimento desintegra; a dor é percepção
presente, um “agora” sensível, o sofrimento é passado, memória, um “sempre”
subjacente; a dor é matéria que se faz cognição, o sofrimento é (re) sentimento
que se faz matéria (lesões psicossomáticas); a dor aponta para um local, o
sofrimento é um todo difuso; a dor necessita falar, se manifesta por
interrogações e interjeições, o sofrimento tende ao silêncio, a se exprimir por
lágrimas, na expressão de santo Agostinho, este “colírio da alma”, o coração
liquefeito a dissolver os nós.”
Espero sempre poder compreender
racionalmente a dor de quem me procura como Psicóloga, mas, principalmente, quero
ter o entendimento afetivo necessário para acolher e cuidar do sofrimento que atormenta
este, que me elege como alguém que pode trilhar com ele o caminho da sua
existência...
Por Mariangela Venas
* José Paulo
Drummond é livre‑docente
e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).