sexta-feira, 1 de abril de 2022

Retornando ao blog....

 


Escolhi essa foto para ilustrar esse texto por ela ser bem atual e porque fala sobre a passagem do tempo. Hoje, ao terminar a aula da especialização, precisei arrumar uns arquivos no computador para selecionar os textos das muitas leituras que preciso fazer. Me deparei com essa foto. É a imagem que uso no Instagram e no LinkedIn. Por algum motivo essa foto me jogou imediatamente no ano de 1992. Último ano da faculdade. Exatos 30 anos!! Não voltam. Se foram para sempre.

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Lembrei do último dia de aula e a promessa feita a um grupo de amigas. Me comprometi a tomar um chopp para celebrar o término da faculdade. Por que essa lembrança? O que há de diferente em um grupo de jovens tomando um chopp ao final de uma aula, de um período, de um curso superior? Nada. Absolutamente corriqueiro. Mas eu queria finalizar um ciclo fazendo algo novo.... Um breve e leve entorpecimento diante do assombro de iniciar a vida profissional.

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Quantos sonhos! Mas eu tinha grandes desafios pela frente. Hoje me dou conta que foi uma grande pretensão, quase uma arrogância, considerando minha história de vida, fazer o curso de Psicologia. Sou dada a paixões mesmo. E teimosia também. Foi preciso persistir e insistir muito para trilhar esse caminho. Sem arrependimentos, apenas constatação.

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A foto, nesse fim de tarde em que chove torrencialmente no Rio de Janeiro, me mostrou as marcas do tempo. Daquela jovem restam o sorriso e a teimosia diante da vida. Eu não me cansei de acreditar que seria possível atuar como psicóloga clínica.  Há trinta anos a aquisição do diploma e, no presente, a responsabilidade de trabalhar como psicóloga em um mundo adoecido e com pessoas tomadas pela angústia.

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Toda vez que recebo um novo paciente eu fico pensando (e acreditando) que ele poderá visitar seu passado para tentar aquietar toda a gama de emoções ruidosas e dolorosas que o levam a uma repetição sem fim de comportamentos que resultam em dor e sofrimento. Esse sujeito poderá enveredar por um processo de reconhecer a si mesmo e assenhorar-se do seu desejo.... Mas é preciso coragem, é preciso olhar para a vida com bons olhos para seguir tão longa e fascinante viagem. É preciso teimosia também.... Dos dois lados.  A minha e a de quem me convoca a iniciar essa viagem.

Contudo, o tempo, esse senhor implacável, sussurra levemente no meu ouvido.... Não se perca na arrogância do saber, ancore sua atuação na clínica do cuidado. Se há  sofrimento é preciso ter respeito e tocar delicadamente nessa alma que se enlaça e se aprisiona na dor. Para que esse sujeito possa entender por si mesmo que novos laços podem ser feitos. E que ele pode ser o sujeito da sua própria história.

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Assim, essa foto mostra que o tempo me permitiu conhecer minhas dores e minhas inquietações, abraçar meus desafios e me tornar uma profissional que reconhece que não tem poderes mágicos para mudar histórias passadas e tampouco para entregar uma vida nova para seus pacientes. Cada um irá se haver como sua própria trama, com seus medos e com a incrível potencialidade do vir a ser. Cada um no seu tempo, claro, mas como disse Saramago...


“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. ”

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Ah... o chopp. Continuo não gostando. Amargo demais. Prefiro as doçuras da vida.