quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Vida: Passado, presente e futuro...




No seu livro Em busca de sentido, Viktor Frankl nos convida a refletir sobre o tempo vivido:

“Sem dúvida as pessoas tendem a ver apenas os campos desnudos da transitoriedade, mas ignoram e esquecem os celeiros repletos do passado, em que mantém guardada a colheita das suas vidas: as ações feitas, os amores amados e, não menos importantes, os sofrimentos enfrentados com coragem e dignidade.”


Quando nascemos carregamos apenas uma certeza: Nosso tempo é finito. Não há negociação acerca desse tempo. Prorrogação de prazo. Vivemos sem saber quando será nosso último suspiro. 

Infelizmente tentamos nos esquecer dessa verdade ineroxável. Postergamos tudo ou quase tudo com a infantil ilusão de que temos todo o tempo do mundo.

A vida se dá no presente. Temos passado e futuro, sem dúvida alguma, mas é no presente que podemos agir. O passsado pode ter deixado marcas duras, indeléveis, mas não devemos paralisar em função dessas marcas. Buscar auxílio profissional pode ser uma maneira de ancorar o futuro na esperança... Secando feridas, estancando sangramentos. Reparando as dores da alma, mas com a consciência de que não é possível um "novo passado", mas é possível um presente com menos angústia e dor. É possível um presente com alegrias, sorrisos, festejos e encantos. 

Viver é uma aventura incrível!!! Aventure-se!!!!


Crédito imagem: https://www.pexels.com , que disponibiliza para acesso público.



sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Amanhã!

(Foto de arquivo pessoal)

 

Por hoje apenas essa música com toda sua potência diante do amanhã!!!!!  No exercício da minha profissão preciso sempre acreditar que o que existe é para vicejar!!!!

Amanhã!

"Amanhã será um lindo dia Da mais louca alegria Que se possa imaginar Amanhã, redobrada a força Pra cima que não cessa Há de vingar Amanhã, mais nenhum mistério Acima do ilusório O astro rei vai brilhar Amanhã a luminosidade Alheia a qualquer vontade Há de imperar, há de imperar Amanhã está toda a esperança Por menor que pareça O que existe é pra vicejar Amanhã, apesar de hoje Ser a estrada que surge Pra se trilhar Amanhã, mesmo que uns não queiram Será de outros que esperam Ver o dia raiar Amanhã ódios aplacados Temores abrandados Será pleno, será pleno"
(Guilherme Arantes)

terça-feira, 31 de maio de 2022

Fragmentos...

Foto de arquivo pessoal




Eu diria que esse texto é um recorte das muitas falas que aparecem nos processos psicoterapêuticos que meus pacientes me dão a honra de acompanhar.... Nesse percurso que venho fazendo na Psicologia Clínica, tenho tocado em almas muito feridas.

Sujeitos que vão buscando contornos para a angústia que se apresenta. Vão transformando em sintomas... arranjos psíquicos para garantia da sobrevivência. Mas, como dizia Freud:

Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.”

Assim, essas frases não têm dono, ou seja, não é do paciente A ou B, são fragmentos que eu fui tecendo para elaboração do texto.

Uma costura delicada, o avançar da agulha não pode produzir mais feridas...

Hoje está difícil... tem um nó inteiro dentro de mim... como se tudo estivesse estrangulado, como se tudo fosse lamento e dor... não sei de onde vem tanto medo, não sei de onde vem tanta agonia... Será que Deus, que dizem ter uma infinita bondade, poderia me aliviar o peso da infância sofrida, de uma vida marcada por tantas inquietações. Já nem sei se acredito em Deus.

Meu coração bate apressado, parece que vou morrer! Sensação apavorante. Parei um pouco, presto atenção nesse bater descompassado e escuto meu coração dizer que queria ter sentido mais vida pulsando dentro de mim. Me interpelou sobre meu desejo... E eu desatei a chorar. Lembrei de você me pedindo para ter calma e respirar profundamente.

Muitas vezes me vi sonhando coisas lindas para minha vida. Tudo tão longe... somente pequenas degustações, como naqueles restaurantes em que nos apresentam tudo em pequeníssimas quantidades. Apenas com o intuito de nos abrir o apetite para consumir mais. Cansei! Cansei mesmo! Quero a mesa farta, quero me lambuzar! Se tive que sorver a dor em doses máximas, reivindico o direito de saborear o prazer!!

Não quero ouvir sobre o que eu tenho. Sei de tudo o que tenho. Estou falando do que não tenho. É disso que meu coração quer falar, é por isso que ele dói. Por aquilo que ainda não chegou, que eu não fui buscar, que eu não soube reter! É da falta que quero falar, do que não sei se virá, do que não sei se terei disposição para buscar, do vir a ser comprometido pelo desamparo vivido na infância.

Estou falando dessa forma sem parar, as palavras soltas, sem compromisso com o discurso certinho. Eu quero aliviar essa angústia que se avoluma dentro de mim, quero libertar minha alma... sinto os grilhões se arrastando... sinto a morte n’alma.

Quero me reencontrar. Quero encontrar esse desejo que você tanto fala... Quero mais: quero aquela alegria pura que eu sentia ao ver um pôr do sol. Lembro da primeira vez que vi o céu se avermelhando no horizonte. Estava no quintal da minha avó, era muito criança ainda e de repente o céu ficou alaranjado. Tive medo que fosse o fim do mundo, corri para dentro assustada.... Depois, aos poucos, comecei a gostar imensamente. Era tomada por uma forte sensação de renovação. Ciclos que se encerram.

Hoje não tenho o que falar, nem sei porque estou aqui. Nada muda!!!! Continuo ouvindo os gritos da minha mãe, falando para eu não comer isso ou aquilo, pois vou ficar gorda. E eu comia, comia, comia!!! E depois vomitava tudo forçosamente, o que eu queria mesmo era calar a voz dela dentro de mim. Não, eu não vomito mais. Aliás, acabo de me dar conta que estou há um ano sem vomitar! E isso é bom. Muito bom!

Sinto que um ciclo se encerra. Queria ficar uns tempos sem fazer terapia. Caminhamos tanto. Quero ver como toco minha vida sem estar segurando na sua mão. Obrigada!

Eu me despeço e fecho a porta.... Sentirei saudades.


Por

Mariangela Venas

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Retornando ao blog....

 


Escolhi essa foto para ilustrar esse texto por ela ser bem atual e porque fala sobre a passagem do tempo. Hoje, ao terminar a aula da especialização, precisei arrumar uns arquivos no computador para selecionar os textos das muitas leituras que preciso fazer. Me deparei com essa foto. É a imagem que uso no Instagram e no LinkedIn. Por algum motivo essa foto me jogou imediatamente no ano de 1992. Último ano da faculdade. Exatos 30 anos!! Não voltam. Se foram para sempre.

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Lembrei do último dia de aula e a promessa feita a um grupo de amigas. Me comprometi a tomar um chopp para celebrar o término da faculdade. Por que essa lembrança? O que há de diferente em um grupo de jovens tomando um chopp ao final de uma aula, de um período, de um curso superior? Nada. Absolutamente corriqueiro. Mas eu queria finalizar um ciclo fazendo algo novo.... Um breve e leve entorpecimento diante do assombro de iniciar a vida profissional.

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Quantos sonhos! Mas eu tinha grandes desafios pela frente. Hoje me dou conta que foi uma grande pretensão, quase uma arrogância, considerando minha história de vida, fazer o curso de Psicologia. Sou dada a paixões mesmo. E teimosia também. Foi preciso persistir e insistir muito para trilhar esse caminho. Sem arrependimentos, apenas constatação.

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A foto, nesse fim de tarde em que chove torrencialmente no Rio de Janeiro, me mostrou as marcas do tempo. Daquela jovem restam o sorriso e a teimosia diante da vida. Eu não me cansei de acreditar que seria possível atuar como psicóloga clínica.  Há trinta anos a aquisição do diploma e, no presente, a responsabilidade de trabalhar como psicóloga em um mundo adoecido e com pessoas tomadas pela angústia.

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Toda vez que recebo um novo paciente eu fico pensando (e acreditando) que ele poderá visitar seu passado para tentar aquietar toda a gama de emoções ruidosas e dolorosas que o levam a uma repetição sem fim de comportamentos que resultam em dor e sofrimento. Esse sujeito poderá enveredar por um processo de reconhecer a si mesmo e assenhorar-se do seu desejo.... Mas é preciso coragem, é preciso olhar para a vida com bons olhos para seguir tão longa e fascinante viagem. É preciso teimosia também.... Dos dois lados.  A minha e a de quem me convoca a iniciar essa viagem.

Contudo, o tempo, esse senhor implacável, sussurra levemente no meu ouvido.... Não se perca na arrogância do saber, ancore sua atuação na clínica do cuidado. Se há  sofrimento é preciso ter respeito e tocar delicadamente nessa alma que se enlaça e se aprisiona na dor. Para que esse sujeito possa entender por si mesmo que novos laços podem ser feitos. E que ele pode ser o sujeito da sua própria história.

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Assim, essa foto mostra que o tempo me permitiu conhecer minhas dores e minhas inquietações, abraçar meus desafios e me tornar uma profissional que reconhece que não tem poderes mágicos para mudar histórias passadas e tampouco para entregar uma vida nova para seus pacientes. Cada um irá se haver como sua própria trama, com seus medos e com a incrível potencialidade do vir a ser. Cada um no seu tempo, claro, mas como disse Saramago...


“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. ”

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Ah... o chopp. Continuo não gostando. Amargo demais. Prefiro as doçuras da vida.