sábado, 30 de dezembro de 2023

Meu livro!

 


Em agosto de 2022 finalizei uma especialização em Transtornos Alimentares na PUC-RIO. Um tema que venho estudando há alguns anos. Quando comecei a especialização não imaginava que viveria tempos tão difíceis na minha vida pessoal. Perdi pessoas  queridas.

Trabalhar e estudar foram portos seguros que encontrei para atravessar o mar revolto daqueles tempos.

Por isso tornou-se tão importante transformar o trabalho final da especialização em um livro.  Já era um sonho antigo... Um sonho sonhado por mim e, também, por minha mãe.

Freud diz que é preciso trabalhar o luto.... E foi o que eu  fiz...

Quando escrevemos, ainda que em um texto acadêmico, deixamos "respingos" de nós por onde a caneta passa. Sim, ainda escrevo no modo tradicional... Faço anotações em pedaços de papel quando me vem uma ideia que  parece boa para desenvolver. Faço registros em cadernos e também nos livros que leio para respaldar meu texto.  Depois vou costurando tudo ... Pedacinho por pedacinho.

Dedico esse livro a minha avó materna, porque sempre esteve comigo. Especialmente quando sua filha, minha mãe,  partiu tão precocemente. Ela me ensinou que nordeste e sudeste se encontram na estrada do coração. A ditância era apenas geográfica.

Esse livro fala da Hope, uma personagem  que encarna várias meninas e mulheres que encontrei ao longo da vida. Tanto no espaço profissional,  como no pessoal.

Mulheres e meninas que travaram batalhas internas para não sucumbir aos desafios de um ambiente de desalento.

A pressão sobre o corpo feminino ainda produz muito sofrimento. É doloroso acolher o relato de meninas que estão presas na ditadura de um corpo perfeito. É dor crua,  dura, nua. É um desnudar a alma e fazer doer na carne a angústia de não se sentir feliz no corpo que habita. 

É apenas um começo. Sinto que há muito mais histórias para contar. Minha mãe me queria escritora. Ah... as mães e seus olhares impregnados de desejos...

Me sinto grata por toda linhagem de mulheres  que marcaram minha vida, mas especialmente a minha filha que  modificou  profundamente a minha existência. ❤

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Depressão. Quando a desesperança bate à porta...

 


A foto mostra o livro que estou lendo atualmente. Depressão é um tema profundo, difícil de discorrer. Avançar nessa leitura tem me trazido lembranças de pessoas que já estiveram sob os meus cuidados.

Em quase todas eu vi estampado em seus rostos:

Desespero

Desesperança

Desesperação

Desalento

Desânimo

Desolação

Devastação

Desamparo

Dor

Variava a intensidade, naturalmente, porque cada um me trazia um pedaço de si impregnado com sua história.... Ouvindo essas pessoas percebia que me questionava intimamente sobre o momento em que o desejo de não ser foi deflagrado na vida de cada um.

A depressão, repito, não é tema fácil. Há de se entender a partir de diversas abordagens: medicina, psicologia, psicanálise. Mas o que é importante considerar é que nenhum adoecimento será igual em sintomatologia. Cada um experimentará a desesperança a partir do que outrora foi vivido. Que trama ficou enredada no psiquismo desse sujeito? O ambiente do início da sua vida foi vivido como um porto seguro ou sentia que estava em um barco à deriva?

Quantas vezes a depressão já havia batido à porta com disposição para entrar e fazer morada? Quantos sinais foram dados acerca do sofrimento e do tormento vivenciado por essa alma que agora parece querer desistir em definitivo. A separação, a cirurgia da filha, a morte de um ente querido, a demissão, o fracasso no vestibular, a morte do gatinho. Sem dúvida, eventos que podem ser traumáticos, mas em alguns casos parecia haver uma desproporcionalidade no sofrer.... Não era apenas o fato em si, não era aquele momento especificamente. Algo enganchou em uma estrutura que já apresentava certa fragilidade, certo comedimento no sorrir, no dançar, no amar, no viver...

Se algo ficou enganchado não adianta puxar com força, é preciso ter cuidado para que a retirada do gancho não produza mais ranhuras no tecido já demasiadamente esgarçado....

É uma vida que chega para mim. Não sei nada sobre sua história. Não quero arrancar nada a força. O que devo fazer de imediato é buscar saber onde está sangrando pelo atrito da ponta do gancho. Ofereço minha escuta.... Muitas vezes o que temos é uma fala vazia, distanciada de si.... Há dias de choro e lágrimas fartas. Em outros momentos o choro é contido, como se alguém imperativamente dissesse: Engole o choro!

E eu fico ao lado. Sei que iniciaremos uma longa jornada até que essa pessoa possa percorrer todos (ou quase todos, ou os possíveis) caminhos sombrios pelos quais sua alma já enveredou. Até que ela possa se apropriar da sua história. Tomar para si a vontade de existir. Compreender, como nos diz o autor do livro, o psicanalista Alexandre Patricio, que:

“Somos um produto dessa trama de barbantes entrelaçados que, a qualquer momento, pode ser rasgada por um golpe brutal. O grande detalhe, porém, é aceitar esse fim. Saber que nunca se é independente. Saber reconhecer que a morte e a perda sempre irão doer.”

E a psicoterapia deverá permitir o trabalho do luto. Do luto sobre o qual se fala abertamente: o acontecimento específico que levou o indivíduo para a psicoterapia. E o luto que ficou preso, encapsulado, sem ter havido espaço para elaboração. Sabia-se do desamparo, do choro, da dor, mas não foi possível – outrora – sentir.

Faz-se necessário abandonar o objeto perdido que, embora morto, ainda vive como um fantasma a arrastar correntes provocando medo e apatia. Chega o tempo em que o paciente se torna dono da sua história e pode seguir adiante com suas dores e encantos. Sim, com as dores, pois é disso que se trata a vida...