quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A Lista - Oswaldo Montenegro

 

Há alguns dias venho pensando na música A lista do Oswaldo Montenegro... Talvez esteja me fazendo as perguntas que a música sugere. Há silêncio no meu coração, momento bom para essas respostas. Suponho...

A vida é movimento e acredito que de tempos em tempos precisamos pensar no que deixamos para trás.... Será que há espaço para recuperar? Será que é só seguir em frente?

Sei que andam nos vendendo a ideia que a vida é aceleração e performance, mas... quantos lutos você engoliu com um bom naco de torta? Com uma dose a mais do drink da moda? Com um vestido novo?

Que respostas você daria para essas perguntas? Não vale mentir... Sua alma sabe os caminhos percorridos quando você está fora dos "holofotes" das redes sociais.

Coragem!!! Escolha uma pergunta e me responda nos comentários...

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais


Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!

Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar

Aonde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assovia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

 

Composição: Oswaldo Montenegro

sábado, 30 de dezembro de 2023

Meu livro!

 


Em agosto de 2022 finalizei uma especialização em Transtornos Alimentares na PUC-RIO. Um tema que venho estudando há alguns anos. Quando comecei a especialização não imaginava que viveria tempos tão difíceis na minha vida pessoal. Perdi pessoas  queridas.

Trabalhar e estudar foram portos seguros que encontrei para atravessar o mar revolto daqueles tempos.

Por isso tornou-se tão importante transformar o trabalho final da especialização em um livro.  Já era um sonho antigo... Um sonho sonhado por mim e, também, por minha mãe.

Freud diz que é preciso trabalhar o luto.... E foi o que eu  fiz...

Quando escrevemos, ainda que em um texto acadêmico, deixamos "respingos" de nós por onde a caneta passa. Sim, ainda escrevo no modo tradicional... Faço anotações em pedaços de papel quando me vem uma ideia que  parece boa para desenvolver. Faço registros em cadernos e também nos livros que leio para respaldar meu texto.  Depois vou costurando tudo ... Pedacinho por pedacinho.

Dedico esse livro a minha avó materna, porque sempre esteve comigo. Especialmente quando sua filha, minha mãe,  partiu tão precocemente. Ela me ensinou que nordeste e sudeste se encontram na estrada do coração. A ditância era apenas geográfica.

Esse livro fala da Hope, uma personagem  que encarna várias meninas e mulheres que encontrei ao longo da vida. Tanto no espaço profissional,  como no pessoal.

Mulheres e meninas que travaram batalhas internas para não sucumbir aos desafios de um ambiente de desalento.

A pressão sobre o corpo feminino ainda produz muito sofrimento. É doloroso acolher o relato de meninas que estão presas na ditadura de um corpo perfeito. É dor crua,  dura, nua. É um desnudar a alma e fazer doer na carne a angústia de não se sentir feliz no corpo que habita. 

É apenas um começo. Sinto que há muito mais histórias para contar. Minha mãe me queria escritora. Ah... as mães e seus olhares impregnados de desejos...

Me sinto grata por toda linhagem de mulheres  que marcaram minha vida, mas especialmente a minha filha que  modificou  profundamente a minha existência. ❤

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Depressão. Quando a desesperança bate à porta...

 


A foto mostra o livro que estou lendo atualmente. Depressão é um tema profundo, difícil de discorrer. Avançar nessa leitura tem me trazido lembranças de pessoas que já estiveram sob os meus cuidados.

Em quase todas eu vi estampado em seus rostos:

Desespero

Desesperança

Desesperação

Desalento

Desânimo

Desolação

Devastação

Desamparo

Dor

Variava a intensidade, naturalmente, porque cada um me trazia um pedaço de si impregnado com sua história.... Ouvindo essas pessoas percebia que me questionava intimamente sobre o momento em que o desejo de não ser foi deflagrado na vida de cada um.

A depressão, repito, não é tema fácil. Há de se entender a partir de diversas abordagens: medicina, psicologia, psicanálise. Mas o que é importante considerar é que nenhum adoecimento será igual em sintomatologia. Cada um experimentará a desesperança a partir do que outrora foi vivido. Que trama ficou enredada no psiquismo desse sujeito? O ambiente do início da sua vida foi vivido como um porto seguro ou sentia que estava em um barco à deriva?

Quantas vezes a depressão já havia batido à porta com disposição para entrar e fazer morada? Quantos sinais foram dados acerca do sofrimento e do tormento vivenciado por essa alma que agora parece querer desistir em definitivo. A separação, a cirurgia da filha, a morte de um ente querido, a demissão, o fracasso no vestibular, a morte do gatinho. Sem dúvida, eventos que podem ser traumáticos, mas em alguns casos parecia haver uma desproporcionalidade no sofrer.... Não era apenas o fato em si, não era aquele momento especificamente. Algo enganchou em uma estrutura que já apresentava certa fragilidade, certo comedimento no sorrir, no dançar, no amar, no viver...

Se algo ficou enganchado não adianta puxar com força, é preciso ter cuidado para que a retirada do gancho não produza mais ranhuras no tecido já demasiadamente esgarçado....

É uma vida que chega para mim. Não sei nada sobre sua história. Não quero arrancar nada a força. O que devo fazer de imediato é buscar saber onde está sangrando pelo atrito da ponta do gancho. Ofereço minha escuta.... Muitas vezes o que temos é uma fala vazia, distanciada de si.... Há dias de choro e lágrimas fartas. Em outros momentos o choro é contido, como se alguém imperativamente dissesse: Engole o choro!

E eu fico ao lado. Sei que iniciaremos uma longa jornada até que essa pessoa possa percorrer todos (ou quase todos, ou os possíveis) caminhos sombrios pelos quais sua alma já enveredou. Até que ela possa se apropriar da sua história. Tomar para si a vontade de existir. Compreender, como nos diz o autor do livro, o psicanalista Alexandre Patricio, que:

“Somos um produto dessa trama de barbantes entrelaçados que, a qualquer momento, pode ser rasgada por um golpe brutal. O grande detalhe, porém, é aceitar esse fim. Saber que nunca se é independente. Saber reconhecer que a morte e a perda sempre irão doer.”

E a psicoterapia deverá permitir o trabalho do luto. Do luto sobre o qual se fala abertamente: o acontecimento específico que levou o indivíduo para a psicoterapia. E o luto que ficou preso, encapsulado, sem ter havido espaço para elaboração. Sabia-se do desamparo, do choro, da dor, mas não foi possível – outrora – sentir.

Faz-se necessário abandonar o objeto perdido que, embora morto, ainda vive como um fantasma a arrastar correntes provocando medo e apatia. Chega o tempo em que o paciente se torna dono da sua história e pode seguir adiante com suas dores e encantos. Sim, com as dores, pois é disso que se trata a vida...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Vida: Passado, presente e futuro...




No seu livro Em busca de sentido, Viktor Frankl nos convida a refletir sobre o tempo vivido:

“Sem dúvida as pessoas tendem a ver apenas os campos desnudos da transitoriedade, mas ignoram e esquecem os celeiros repletos do passado, em que mantém guardada a colheita das suas vidas: as ações feitas, os amores amados e, não menos importantes, os sofrimentos enfrentados com coragem e dignidade.”


Quando nascemos carregamos apenas uma certeza: Nosso tempo é finito. Não há negociação acerca desse tempo. Prorrogação de prazo. Vivemos sem saber quando será nosso último suspiro. 

Infelizmente tentamos nos esquecer dessa verdade ineroxável. Postergamos tudo ou quase tudo com a infantil ilusão de que temos todo o tempo do mundo.

A vida se dá no presente. Temos passado e futuro, sem dúvida alguma, mas é no presente que podemos agir. O passsado pode ter deixado marcas duras, indeléveis, mas não devemos paralisar em função dessas marcas. Buscar auxílio profissional pode ser uma maneira de ancorar o futuro na esperança... Secando feridas, estancando sangramentos. Reparando as dores da alma, mas com a consciência de que não é possível um "novo passado", mas é possível um presente com menos angústia e dor. É possível um presente com alegrias, sorrisos, festejos e encantos. 

Viver é uma aventura incrível!!! Aventure-se!!!!


Crédito imagem: https://www.pexels.com , que disponibiliza para acesso público.



sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Amanhã!

(Foto de arquivo pessoal)

 

Por hoje apenas essa música com toda sua potência diante do amanhã!!!!!  No exercício da minha profissão preciso sempre acreditar que o que existe é para vicejar!!!!

Amanhã!

"Amanhã será um lindo dia Da mais louca alegria Que se possa imaginar Amanhã, redobrada a força Pra cima que não cessa Há de vingar Amanhã, mais nenhum mistério Acima do ilusório O astro rei vai brilhar Amanhã a luminosidade Alheia a qualquer vontade Há de imperar, há de imperar Amanhã está toda a esperança Por menor que pareça O que existe é pra vicejar Amanhã, apesar de hoje Ser a estrada que surge Pra se trilhar Amanhã, mesmo que uns não queiram Será de outros que esperam Ver o dia raiar Amanhã ódios aplacados Temores abrandados Será pleno, será pleno"
(Guilherme Arantes)

terça-feira, 31 de maio de 2022

Fragmentos...

Foto de arquivo pessoal




Eu diria que esse texto é um recorte das muitas falas que aparecem nos processos psicoterapêuticos que meus pacientes me dão a honra de acompanhar.... Nesse percurso que venho fazendo na Psicologia Clínica, tenho tocado em almas muito feridas.

Sujeitos que vão buscando contornos para a angústia que se apresenta. Vão transformando em sintomas... arranjos psíquicos para garantia da sobrevivência. Mas, como dizia Freud:

Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.”

Assim, essas frases não têm dono, ou seja, não é do paciente A ou B, são fragmentos que eu fui tecendo para elaboração do texto.

Uma costura delicada, o avançar da agulha não pode produzir mais feridas...

Hoje está difícil... tem um nó inteiro dentro de mim... como se tudo estivesse estrangulado, como se tudo fosse lamento e dor... não sei de onde vem tanto medo, não sei de onde vem tanta agonia... Será que Deus, que dizem ter uma infinita bondade, poderia me aliviar o peso da infância sofrida, de uma vida marcada por tantas inquietações. Já nem sei se acredito em Deus.

Meu coração bate apressado, parece que vou morrer! Sensação apavorante. Parei um pouco, presto atenção nesse bater descompassado e escuto meu coração dizer que queria ter sentido mais vida pulsando dentro de mim. Me interpelou sobre meu desejo... E eu desatei a chorar. Lembrei de você me pedindo para ter calma e respirar profundamente.

Muitas vezes me vi sonhando coisas lindas para minha vida. Tudo tão longe... somente pequenas degustações, como naqueles restaurantes em que nos apresentam tudo em pequeníssimas quantidades. Apenas com o intuito de nos abrir o apetite para consumir mais. Cansei! Cansei mesmo! Quero a mesa farta, quero me lambuzar! Se tive que sorver a dor em doses máximas, reivindico o direito de saborear o prazer!!

Não quero ouvir sobre o que eu tenho. Sei de tudo o que tenho. Estou falando do que não tenho. É disso que meu coração quer falar, é por isso que ele dói. Por aquilo que ainda não chegou, que eu não fui buscar, que eu não soube reter! É da falta que quero falar, do que não sei se virá, do que não sei se terei disposição para buscar, do vir a ser comprometido pelo desamparo vivido na infância.

Estou falando dessa forma sem parar, as palavras soltas, sem compromisso com o discurso certinho. Eu quero aliviar essa angústia que se avoluma dentro de mim, quero libertar minha alma... sinto os grilhões se arrastando... sinto a morte n’alma.

Quero me reencontrar. Quero encontrar esse desejo que você tanto fala... Quero mais: quero aquela alegria pura que eu sentia ao ver um pôr do sol. Lembro da primeira vez que vi o céu se avermelhando no horizonte. Estava no quintal da minha avó, era muito criança ainda e de repente o céu ficou alaranjado. Tive medo que fosse o fim do mundo, corri para dentro assustada.... Depois, aos poucos, comecei a gostar imensamente. Era tomada por uma forte sensação de renovação. Ciclos que se encerram.

Hoje não tenho o que falar, nem sei porque estou aqui. Nada muda!!!! Continuo ouvindo os gritos da minha mãe, falando para eu não comer isso ou aquilo, pois vou ficar gorda. E eu comia, comia, comia!!! E depois vomitava tudo forçosamente, o que eu queria mesmo era calar a voz dela dentro de mim. Não, eu não vomito mais. Aliás, acabo de me dar conta que estou há um ano sem vomitar! E isso é bom. Muito bom!

Sinto que um ciclo se encerra. Queria ficar uns tempos sem fazer terapia. Caminhamos tanto. Quero ver como toco minha vida sem estar segurando na sua mão. Obrigada!

Eu me despeço e fecho a porta.... Sentirei saudades.


Por

Mariangela Venas