quarta-feira, 22 de março de 2017

As folhas caem no outono...

Foto  de arquivo pessoal

O outono sugere que é hora de fazer uma faxina. Cansados que estamos da exuberância do verão, é chegada a hora de  deixar que as folhas caiam e apodreçam no chão, servindo de adubo para a terra... Prenúncio de frutos doces e abundantes na primavera.

A queda de algumas folhas pode deixar uma pequena cicatriz...Foram arrancadas pela impiedosa força do vento ou por uma mão furtiva. Quando uma folha é sorrateiramente arrancada, a seiva deixa um pequeno rastro... Tal qual uma lágrima, sinalizando que houve ali um trauma. 

Algumas caem leves, já quase soltas dos galhos, ávidas para fortalecerem as plantas de onde vieram e outras tantas que estão pelo caminho. 

Há folhas que caem bailando. Sim!!! Como se escutassem um canto mágico e, por isso, seguem seu destino dando pequenos rodopios para depois adormecerem suavemente. Sábias que são, entendem que ali não acabou a existência, apenas será modificada, viverá uma nova experiência. Sem grandes apegos ou sofrimento acolhem os ditames da natureza.

Não seria assim a nossa existência? Não temos nossos verões intensos e coloridos? Quando a vida se faz plena de contentamentos, risos soltos, onde bailamos no tapete da esperança e da alegria?

E há os momentos em que somos feridos, em que as "folhas" são arrancadas com tamanha rudeza que é impossível não verter o galho e chorar a dor. Os traumas vão surgindo. Ás vezes o tronco da árvore adoece, faz-se um buraco, um enorme vazio. Algumas vão precisar de ajuda, de alguém que possa mexer na terra, colocar adubo, fertilizantes e falar bem baixinho: siga seu caminho. A primavera te quer frondosa, cheia de frutos, você tem a semente da vida em você.

Finalizo com uma frase de Leonardo Boff: "... e que a nossa parte sã cure a parte doentia. Esta é a experiência de transcendência fecunda, verdadeiramente humana."

Por Mariangela Venas


Livro: Tempo de Transcendência - O ser humano como um projeto infinito.
Leonardo Boff
Sextante

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Contemplação...

                                                                               Foto de arquivo pessoal


Tirei esta foto no Parque Amantikir em Campos do Jordão (Janeiro/2016). O local é lindo, uma verdadeira obra de arte a céu aberto.Como fica em uma região bem alta, quando sentamos nestes bancos tudo o que há diante de nós é um precipício ... Um abismo... Um despenhadeiro...

Contraditoriamente, a sensação experimentada é de profunda paz e calmaria. Como se nossa mente dissesse: Calma. 

A vida pode ser este recanto silencioso e contemplativo, mas também é queda e dor. E é preciso saber vivê-los com a intensidade própria de cada momento. Costumo dizer para as pessoas que atendo, que é preciso ter calma para efetuar as mudanças que tanto almejam, bem como para alcançar o entendimento de suas dores e angústias. Muitas vezes chegam apressados, ainda no ritmo imposto pelo mundo moderno.  Parecem profundamente cansados de uma correria sem fim: alguns ávidos por soluções imediatas, outros tantos fugindo de lembranças, memórias doloridas que marcaram a alma. Todos correm e arfam e cansam e extravasam em lágrimas o choro há tanto reprimido. E eu apenas digo: Calma.

Vamos aquietar o coração. Sentar diante do  abismo com a perspectiva de entendimento e acolhimento e não de fuga e desespero. Buscar ter compaixão por todos os envolvidos na trama da vida. Nesta vida que a pessoa se encontra e onde parece estar tão desconfortável na pele que habita. Assim, calma...

O mundo moderno anda sem tempo para entristecidos, enlutados, traumatizados, doloridos. Este tempo de correria e avidez coloca todos diante do nada, do vazio, mas sem a possibilidade de contemplação, de quietude e entendimento. 

E que não se confunda contemplação com apatia. Que é a outra face cruel da atualidade.



Por Mariangela Venas




Para aqueles que se interessaram pelo local mencionado, segue o link. Mas a visita virtual deve ser apenas um estímulo. Bom mesmo é desfrutar da vida real...