Que tipo de sujeito a sociedade
atual está produzindo?
Outrora, tínhamos valores mais
arraigados que permitia a cada um saber qual era sua responsabilidade na
relação consigo e com o outro. Na atualidade, vivemos sobre a égide da
liberdade total, nunca estivemos tão livres! Praticamente anulamos as
autoridades que estabeleciam parâmetros de convivência. Que configurava uma maneira
de ancoragem do indivíduo no mundo. Havia autoridade instituída. E houve exageros,
sem dúvida. Mas hoje também temos exagero, pois há uma exacerbação desta
liberdade, em detrimento da responsabilidade. Ou seja, sou livre, mas quanto a
responsabilizar-me por meus atos.... Haverá sempre algo ou alguém que poderá
responder pela ação realizada, destituindo o indivíduo da sua responsabilidade
de se pôr no mundo.
Mas o título não é Psiquiatrização
da infância? Sim...
Há uma discussão ampla sobre este tema, não vou me
ater às pesquisas realizadas nesta área. Os psicodiagnósticos são importantes
para libertar crianças do sofrimento que não podem suportar, porém, há de se
ter calma nos diagnósticos e tratamentos, para que a possibilidade de um
transtorno não sirva para justificar, muitas vezes, comportamentos inadequados,
onde a falta de limites impera. As crianças crescem sem saber que a “minha
cerca termina quando começa a cerca do vizinho”. As crianças crescem
considerando que o mundo todo é um parque de diversões onde elas podem tudo.
Educar um filho exige tempo, é cansativo e nos convida
cotidianamente a refletir sobre o sentido da vida... Não é tarefa fácil,
portanto. O investimento afetivo é grande, eu diria que é incomensurável.
Atribuir um transtorno psiquiátrico à falta de
acolhimento familiar a que muitas crianças estão submetidas é fechar os olhos
para um fato marcante: Nossas crianças estão abandonando a infância
precocemente... têm agendas repletas de compromissos; dormem muito pouco
seduzidas por seus smartfhones; a
alimentação, em muitos casos, provoca acentuada agitação; as brincadeiras na
rua, praças e parques foram abolidas em função da insegurança que predomina na
cidade. Mas são apenas crianças.... Faz-se necessário um olhar mais enternecido
sobre elas... A angústia pode estar grande, mas se valer apenas de um
diagnóstico poderá encapsulá-la e perderemos toda potencialidade contida em uma
criança. Além de isentar os pais da responsabilidade de educar seus filhos.
Há uma série de exemplos que poderia compartilhar com
vocês, sobre a forma como um diagnóstico pode reduzir a plenitude de uma criança.
Vou relatar um recente que uma amiga professora teve o desprazer de vivenciar: Um
aluno do quarto ano do Ensino Fundamental I (escola particular, Z. Sul do Rio
de Janeiro), mandou uma professora tomar... Não, não foi tomar água ou
sorvete!!!! A professora chamou a atenção veementemente do aluno. Os pais desta
criança foram à escola reclamar da atitude da professora, argumentaram que o
filho tem Distúrbio
desafiador e de oposição - F91.3 – CID 10. E,
portanto, ela deveria pedir desculpas à criança.
Há,
então, um transtorno psiquiátrico que autoriza uma criança de 10/11 anos a
afrontar e desrespeitar um professor?
Ao
que me parece, é a destituição da autoridade, a soberania da liberdade a
qualquer preço, a utilização equivocada de um diagnóstico médico, o
encapsulamento de uma criança a partir de um rótulo...
E
você o que pensa sobre isso? Deixe um comentário.
Por Mariangela Venas