terça-feira, 15 de setembro de 2015

“Psiquiatrização da Infância”



Que tipo de sujeito a sociedade atual está produzindo?

Outrora, tínhamos valores mais arraigados que permitia a cada um saber qual era sua responsabilidade na relação consigo e com o outro. Na atualidade, vivemos sobre a égide da liberdade total, nunca estivemos tão livres! Praticamente anulamos as autoridades que estabeleciam parâmetros de convivência. Que configurava uma maneira de ancoragem do indivíduo no mundo. Havia autoridade instituída. E houve exageros, sem dúvida. Mas hoje também temos exagero, pois há uma exacerbação desta liberdade, em detrimento da responsabilidade. Ou seja, sou livre, mas quanto a responsabilizar-me por meus atos.... Haverá sempre algo ou alguém que poderá responder pela ação realizada, destituindo o indivíduo da sua responsabilidade de se pôr no mundo.

Mas o título não é Psiquiatrização da infância? Sim...

Há uma discussão ampla sobre este tema, não vou me ater às pesquisas realizadas nesta área. Os psicodiagnósticos são importantes para libertar crianças do sofrimento que não podem suportar, porém, há de se ter calma nos diagnósticos e tratamentos, para que a possibilidade de um transtorno não sirva para justificar, muitas vezes, comportamentos inadequados, onde a falta de limites impera. As crianças crescem sem saber que a “minha cerca termina quando começa a cerca do vizinho”. As crianças crescem considerando que o mundo todo é um parque de diversões onde elas podem tudo.

 

Educar um filho exige tempo, é cansativo e nos convida cotidianamente a refletir sobre o sentido da vida... Não é tarefa fácil, portanto. O investimento afetivo é grande, eu diria que é incomensurável.

 

Atribuir um transtorno psiquiátrico à falta de acolhimento familiar a que muitas crianças estão submetidas é fechar os olhos para um fato marcante: Nossas crianças estão abandonando a infância precocemente... têm agendas repletas de compromissos; dormem muito pouco seduzidas por seus smartfhones; a alimentação, em muitos casos, provoca acentuada agitação; as brincadeiras na rua, praças e parques foram abolidas em função da insegurança que predomina na cidade. Mas são apenas crianças.... Faz-se necessário um olhar mais enternecido sobre elas... A angústia pode estar grande, mas se valer apenas de um diagnóstico poderá encapsulá-la e perderemos toda potencialidade contida em uma criança. Além de isentar os pais da responsabilidade de educar seus filhos.

 

Há uma série de exemplos que poderia compartilhar com vocês, sobre a forma como um diagnóstico pode reduzir a plenitude de uma criança. Vou relatar um recente que uma amiga professora teve o desprazer de vivenciar: Um aluno do quarto ano do Ensino Fundamental I (escola particular, Z. Sul do Rio de Janeiro), mandou uma professora tomar... Não, não foi tomar água ou sorvete!!!! A professora chamou a atenção veementemente do aluno. Os pais desta criança foram à escola reclamar da atitude da professora, argumentaram que o filho tem Distúrbio desafiador e de oposição - F91.3 – CID 10. E, portanto, ela deveria pedir desculpas à criança.

 

Há, então, um transtorno psiquiátrico que autoriza uma criança de 10/11 anos a afrontar e desrespeitar um professor?

 

Ao que me parece, é a destituição da autoridade, a soberania da liberdade a qualquer preço, a utilização equivocada de um diagnóstico médico, o encapsulamento de uma criança a partir de um rótulo...

 

E você o que pensa sobre isso? Deixe um comentário.



Por Mariangela Venas

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